Janaina Dias Janaina Dias

Sofrimento Existencial e Suas Raízes Sociais: Uma Reflexão Necessária

Tudo começa com uma ideia.

A precariedade das condições socioeconômicas associada a uma jornada de trabalho exaustiva e ao ideal de ego embranquecido expõe a pessoa negra no Brasil a um maior grau de vulnerabilidade e sofrimento. Muitas vezes, esse sofrimento é confundido com algo meramente existencial, uma experiência particular e singular, quando, na verdade, é essencial reconhecer que estamos tratando de condições sociais estruturadas que perpetuam essa vulnerabilidade.

Como psicóloga, minha experiência me mostra que o sofrimento da população negra no Brasil não deve ser visto isoladamente como uma questão de resiliência individual ou de uma batalha pessoal contra adversidades existenciais. Esse entendimento ignora as raízes profundas das desigualdades sociais e econômicas que impactam essas vidas. A exploração sistemática, a marginalização e a falta de acesso a recursos básicos fazem parte de uma realidade coletiva que agrava o sofrimento.

Essa confusão resulta em uma responsabilidade que recai injustamente sobre os indivíduos afetados. Quando se fala em sofrimento existencial, há uma tendência de desviar o foco das estruturas sociais que precisam ser abordadas. Para que possamos avançar na construção de uma sociedade mais justa e equitativa, é crucial que as políticas públicas não apenas reconheçam essa dinâmica, mas atuem de forma proativa para mitigar a vulnerabilidade socioeconômica.

No meu processo terapêutico, busco integrar essa perspectiva em cada análise. Reconhecer que o sofrimento muitas vezes é um reflexo de fatores sociais e econômicos me permite acolher os pacientes com uma compreensão mais profunda de suas vivências. Essa abordagem exige sensibilidade e consciência crítica, levando em conta a interseccionalidade e os contextos específicos em que cada indivíduo está inserido.

Minha prática busca desmistificar a ideia de que o sofrimento é apenas um fenômeno individual, promovendo um espaço seguro para que meus pacientes expressem não só suas dores, mas também suas lutas cotidianas. Juntos, trabalhamos para encontrar formas de resistência e resiliência que reconhecem sua realidade e contexto social.

Além disso, acredito que o papel do psicólogo é também ser um defensor da justiça social, utilizando a prática para influenciar políticas públicas e enfatizar a importância de criar um sistema de saúde mental que seja acessível e inclusivo para todos. Assim, busco contribuir para a construção de um ambiente onde o sofrimento não é a norma, mas uma experiência que pode ser abordada de forma coletiva e social.

Portanto, ao desenvolver nossas análises e propostas de ação, lembremos que o sofrimento da população negra não deve ser tratado como um fardo individual, mas sim como um sintoma de uma sociedade que ainda precisa confrontar suas desigualdades e preconceitos estruturais. Na minha atuação como psicóloga, estou aqui para ajudar meus pacientes a navegar essas complexidades com empatia e apoio.

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